Em tempos em que o isolamento e a solidão se constituíram como princípios éticos para sobreviver e fazer viver a vida do outro, nada mais revolucionário do que apostar no diálogo como ferramenta, quase que artesanal, para produzir afetos, encontrar saídas e construir um pilar para segurar o céu que está caindo. São tempos de pandemia. Ora, se não há encontros de corpos, há de haver encontros reais-virtuais, mediados pela tela, mas transbordados de intensidades. Não podemos ficar parados. Somos movimentos. É como colocar a existência em rizoma: é pensar nas coisas e entre as coisas, e não criar raiz, traçar a linha e não o ponto. Criamos, com o “Diálogos em quarentena”, não apenas um acúmulo de conhecimentos verbalizados e transcritos, mas experimentações, linguagens e aproximações. É como Gilles Deleuze e Claire Parnet tratam a questão no livro Diálogos: não se trata de falar dos infelizes, de falar em nome das vítimas, dos suplicados e dos oprimidos, mas de traçar uma linha viva, uma linha quebrada.
“Diálogos em quarentena” foi um ciclo de debates de cunho reflexivo cujo objetivo era discutir a importância da Saúde Coletiva e da educação para resistir à pandemia da COVID-19 durante o ano de 2020. Fomentou debates que abordaram temas relacionados ao contexto epidemiológico, sociológico, filosófico e psicológico vinculados às medidas de prevenção, sobretudo a quarentena e o isolamento social. Foram sendo fabricados, a cada encontro, diálogos tratando de temas distintos com a interlocução entre debatedores de diferentes lugares. Foram realizados por intelectuais e professores do campo da Saúde Coletiva e serviram de aprimoramento para a análise crítica diante dos efeitos sociais da pandemia. O material foi cuidadosamente transcrito e polido, lido e relido, no sentido de transpor a linguagem falada para a escrita, respeitando a fluidez, a estética e a liberdade da boa conversa. Eis que surgiu este livro.
Podemos dizer que os diálogos em quarentena fizeram emergir um fato inconteste: vivemos pandemias, no plural, todas elas relacionadas entre si e vivenciadas de múltiplas maneiras pelos diferentes atores sociais. Ao afirmar isso, também refletimos sobre a globalização de um vírus que desata nos variados contextos sociais, culturais e políticos uma série de graves crises. Portanto, dialogamos com nossos pares sobre os efeitos da COVID-19 para além da crise sanitária. Nessa interlocução foi fundamental o caráter interdisciplinar do campo da Saúde Coletiva.
Mês e ano de publicação: novembro de 2021
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