Redes Vivas e Bolhas de Sabão é um escrito cartográfico de uma pesquisadora brincante em uma jornada de formação e transformação produzida no encontro com multiplicidades de viventes na construção de Redes de Cuidado em Saúde. É uma cartografia fruto de estudos de doutoramento, mas que vai além desses estudos pois remete ao modo de existir que começa do fervilhar das artes de quem dá seus primeiros passos ao som de frevo, maracatu e do carnavalizar nas ruas de Recife, capital de Pernambuco, no nordeste do Brasil. No decorrer da pesquisa, no encontro com as pessoas e processos, produziu-se a transformação da própria pesquisadora e de participantes desse estudo. O que nos uniu nesse caminho foi o cuidado compartilhado.
Assim, a partir de demandas de uma pesquisa Nacional denominada Rede de Avaliação Compartilhada – RAC construiu-se uma rede de pessoas em torno do questionamento sobre o que é essa tal rede de pessoas que potencializam o cuidado em saúde a pessoas com transtornos mentais. Foi-se então criando dispositivos como prélúdico para convidar as pessoas a entrarem também nessa narrativa para o traço da cartografia; também se produziu movimentos em torno de usuário-guia entre outras ferramentas do método. Construiu-se ainda e principalmente pactuações e produção de conhecimento com gestores, trabalhadores e usuários de Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, Equipe de Saúde da Família – ESF e Equipe de Consultório na Rua e Equipe de Consultório na Rua. Fomos juntos tecendo narrativas para compreender processos de cuidado, que vai muito além de descrição de procedimentos assistenciais, mas expressa afetos articulados ao cuidado e que marcam encontros para a produção de vida por ela mesma.
E foi assim, nessas caminhadas em Redes Vivas, que aconteceu o encontro com Maria e Pedro. Maria, mulher, mãe e cuidadora, que existe no lusco-fusco do cuidar do outro, e mesmo depois de perder seus filhos pela criminalidade e adoção, ainda se move para o cuidado enquanto território do existir. E Pedro, que mesmo parado em um estado de torpor nas esquinas de ruas praieiras, ensinou-nos a ver o mar de possibilidades em jogadas de xadrez. E foi ele que nos mobilizou a questionar e produzir cuidados para além dos muros de serviços de saúde, mas contando com profissionais de saúde e pessoas daquelas esquinas que iam e vinham em seus movimentos e estavam também olhando para ele, por ele. Pedro não é pedra parada, mas é aquele que nos questiona a construir multiplicidades de formas de cuidar em saúde em Redes Vivas, algo tão delicado e complexo como uma Bolha de Sabão.
Espero, do verbo esperançar, que essa leitura inspire você a continuar a semear Redes Vivas!
Mês e ano de publicação: outubro de 2021
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