“Entre cartas e conversas: por uma Política de Pesquisa feminista e contra-colonial para a Psicologia Social” produziu-se, assim, como o movimento de quem estende as mão para convidar a cirandar, pois como canta Lia de Itamaracá, essa mulher-artista-patrimônio, que tanto embalou a escrita deste livro: “pra se dançar ciranda/juntamos mão com mão/formando uma roda/ cantando uma canção”. Portanto, o que Bruna generosamente nos oferta é uma coleção de cartas produzida com muito cuidado, fruto de uma pesquisa-ciranda amorosa, tecida tanto a partir da partilha das histórias de suas/seus parceiras/es nesta jornada, como pela partilha de suas próprias experiências como mulher branca, lésbica, do estado mais ao sul do país, psicóloga, estudante, professora, companheira, madrasta, filha… entre tantas outras versões de si mesma, com as quais tem se movimentado pelo mundo.
Seguindo os ensinamentos de bell hooks, Bruna nos convoca a esse reconhecimento pelo engajamento a um horizonte afirmado durante toda sua escrita: à transformação de si e, portanto, social e do mundo, honrando o legado de mulheres ancestrais que, como bell, nos ensinaram que o pessoal é, também, político – Audre Lorde, Lélia Gonzalez, Gloria Anzaldúa, só para citar algumas. Em um belo e sensível exercício ético estético e político, suas cinco cartas-ensaio nos agraciam com “pedrinhas miudinhas” que nos contam sobre histórias de pesquisadoras/res que têm produzido transformações em meio a uma academia que, hegemonicamente, ainda carrega suas heranças coloniais e colonizadoras, reproduzindo o racismo, o machismo e o elitismo. Histórias que nos são contadas com a sensibilidade de quem aprendeu com tantas/os que vieram antes de nós, que o exercício crítico do pensamento não está, a despeito da lógica cartesiana, separado da experiência de um corpo com seus sentires, suas emoções e diferentes linguagens e afetos.
Mês e ano de publicação: novembro de 2022
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